A Geração Dourada do futebol português está a mudar de vida. Os homens que contribuíram para os sucessos recentes de Portugal em grandes competições internacionais, tanto ao nível de clubes como de selecções, começam a exercer a sua influência em novas missões. Jorge Costa é o exemplo mais recente. O antigo capitão do FC Porto assumiu, no mês passado, o comando técnico do Sporting de Braga, iniciando uma carreira de treinador que promete adicionar conquistas ao seu vasto currículo.
Geração Dourada
Depois de Paulo Bento, no Sporting, Paulo Sousa, na selecção Sub-16, e Domingos Paciência, no União de Leiria, também Jorge Costa optou pela carreira de treinador ao mais alto nível. A Geração Dourada que encantou os palcos mundiais com a camisola de Portugal começa a deixar os relvados, mas não abdica de se manter ao serviço da modalidade. O ouro continua a brilhar, mas agora no banco. E quem acaba por lucrar com isso são os clubes, como o Braga, cuja ambição de ombrear com os grandes emblemas de Portugal está agora entregue ao campeão europeu e mundial Jorge Costa, que não contava chegar ao comando de uma equipa tão depressa, depois de ter colocado um ponto final na carreira de futebolista em 2006.
Convite irrecusável
"Tinha programado dedicar os próximos dois anos a estudar na área técnica e directiva, mas não tive como hesitar, quando colocado perante o convite de um clube tão bem estruturado como o Braga", conta o jogador ao uefa.com, desvendando os motivos que o levaram a aceitar suceder a Rogério Gonçalves no mês passado, depois de ter chegado ao clube em Novembro de 2006.
A melhor estreia
Jorge Costa protagonizou uma estreia fantástica na carreira de treinador. Aos 35 anos, o antigo internacional português teve oportunidade de usar pela primeira vez a braçadeira de treinador numa competição que venceu, a Taça UEFA, na época 2002/03, quando o FC Porto bateu o Celtic FC, por 3-2, numa emocionante final disputada em Sevilha e decidida no prolongamento. E a sua experiência foi, de facto, determinante na mensagem que passou aos jogadores antes da partida frente ao Parma FC, referente à segunda mão dos oitavos-de-final da competição, uma vez que no plano táctico, com apenas dois dias de trabalho, pouco havia a fazer.
"Dia muito especial"
Jorge Costa nunca esquecerá a noite de 22 de Fevereiro de 2007. "Foi um dia muito especial. Penso que o sucesso na eliminatória com o Parma também se deve ao mérito do meu antecessor, Rogério Gonçalves, pois trazíamos um bom resultado da primeira mão. Mas não poderia desejar melhor entrada. Trabalhei, essencialmente, os aspectos mentais e senti que os jogadores acreditaram, pois conhecem a minha experiência e percebem que a mensagem tem fiabilidade".
Enorme desafio
De facto, não havia razões para duvidar. Jorge Costa é um coleccionador de êxitos. Enquanto jogador, com a camisola do FC Porto, acumulou conquistas: sagrou-se oito vezes campeão nacional, venceu a UEFA Champions League, a Taça UEFA, cinco Taças de Portugal e sete SuperTaças! Mas será que alguém habituado a erguer troféus consegue conviver com a realidade de um clube em franco crescimento, mas que ainda não consegue ombrear com os três gigantes do futebol português? "É um desafio enorme. Sei que o Braga não vai jogar para vencer a UEFA Champions League. Mas a minha filosofia de vida é fazer sempre mais e melhor. E penso que o Braga tem potencial para, a curto prazo, estar muito próximo dos primeiros lugares. Pretendo estar em Braga nesse dia, pois gostaria de contribuir para este clube fazer história", desvenda Jorge Costa, demonstrando que os primeiros dias da nova vida rolam em ritmos de felicidade.
Regresso a casa
Após adicionar ao triunfo na Taça UEFA uma vitória na Liga portuguesa, Jorge Costa conheceu no último domingo a primeira derrota da sua carreira técnica. Curiosamente, tal desaire ocorreu na visita à casa onde viveu os maiores momentos enquanto jogador. Uma noite especial, que teria sido perfeita caso o Braga não tivesse sucumbido diante do FC Porto, por 1-0, no Estádio do Dragão. "Não nego que se tratou de um momento marcante. O único ponto negativo foi mesmo o resultado. Contudo, fiquei contente com a forma como fui recebido e, sobretudo, com a postura da minha equipa, que jogou sem receio e discutiu o resultado até ao derradeiro minuto", elogia, enquanto começa já a projectar o regresso a outra cidade marcante na sua vida. Londres está no horizonte do Braga, que disputa com o Tottenham Hotspur FC o acesso aos quartos-de-final da Taça UEFA.
Londres, doce Londres
Há seis anos, sem espaço no FC Porto, Jorge Costa rumou ao Charlton Athletic FC. A sua determinação e imagem de grande líder dentro das quatro linhas conquistaram imediatamente os adeptos do clube londrino, que recentemente o colocaram entre os melhores estrangeiros da história do Charlton. O sentimento é recíproco. Os adeptos adoram Jorge Costa e o treinador é um apaixonado por Londres. "A cidade e o Charlton hão-de ficar para sempre no meu coração", garante. "Londres devolve-me memórias fantásticas. O futebol vibrante, os sensacionais adeptos do Charlton, um país onde a modalidade é encarada com uma paixão inigualável", constata. A passagem pela cidade do Tamisa foi proveitosa mas curta, porque, entretanto, o percurso de Jorge Costa cruzou-se com José Mourinho.
O amigo Mourinho
O "Special One" chegou ao FC Porto no decurso da época 2001/02 e promoveu o regresso do capitão a Portugal, o que aconteceria no arranque da temporada seguinte. A relação com José Mourinho não poderia ter sido mais profícua, pois juntos venceram, em apenas duas épocas, uma Taça UEFA, uma UEFA Champions League, uma Taça de Portugal e dois campeonatos. "José Mourinho foi marcante na minha carreira como jogador e na vida pessoal. É evidente que aprendi com ele coisas muito importantes para esta nova etapa. Não tenho vergonha de seguir as minhas ideias e ir buscar ensinamentos ao melhor treinador do Mundo", desvenda, colocando o timoneiro do Chelsea no topo das referências, mas sem possibilidades de imitação: "Só existe um José Mourinho", completa.
Tottenham que se cuide
Jorge Costa admite que se aconselha com José Mourinho, mas não sentiu necessidade de recorrer ao amigo inspirador para recolher pistas sobre o adversário dos oitavos-de-final da Taça UEFA. "O Tottenham é a típica equipa inglesa, servida por grandes jogadores, que aplica um jogo de muito contacto físico. Apesar do respeito que me merecem, temos de procurar impor o nosso estilo latino para sermos bem sucedidos", completa. E se Jorge Costa conseguir passar aos seus jogadores aquela ambição e espírito de luta que eram a sua imagem de marca quando pisava os relvados, então o Tottenham não terá tarefa fácil.
quinta-feira, março 01, 2007
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